COMEMORAÇÕES DO 10 DE JUNHO E 3.º ANIVERSÁRIO DO MONUMENTO
No passado dia 10 de Junho,
celebraram-se em Vila do Conde, junto ao Memorial erigido no Cais dos Assentos,
o Dia de Portugal, assim como o 3.º Aniversário da Inauguração do Monumento aos
Ex-Combatentes de Vila do Conde.
As comemorações foram precedidas
de uma missa em sufrágio dos camaradas já falecidos, na Igreja de Nossa Senhora
do Desterro, finda a qual se seguiu um cortejo em direcção ao Monumento, para
uma deposição de flores.
Depois dos discursos de circunstância, proferidos pelo
Presidente da Edilidade (Eng.º Mário de Almeida) e pelo Presidente da Direcção
da ASCVCU (Manuel do Nascimento), foram entregues Medalhas Comemorativas das
Campanhas, a doze camaradas ex-combatentes, com as devidas honras
militares.
DISCURSO PROFERIDO PELO PRESIDENTE DA DIRECÇÃO NO DIA DE
PORTUGAL E DO 3.º ANIVERSÁRIO DA INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO AOS COMBATENTES DO
ULTRAMAR
Meus Senhores e Minhas Senhoras:
A todos cordialmente saudamos e agradecemos a vossa honrosa
presença.
Camaradas:
Um dia jurámos como Portugueses e Militares servir as Forças
Armadas e cumprir com os deveres militares; defender a Pátria e estarmos sempre
prontos a lutar pela Liberdade e Independência, mesmo com o sacrifício da
própria vida.
HONRAI A PÁTRIA QUE ELA VOS CONTEMPLA
Aos políticos deste país cabe a tarefa e a responsabilidade
de encontrarem soluções justas para se construir a Paz e aplicar a Justiça. A
cada um de nós cidadãos o dever de cultivarmos o espírito cívico, para que a
Pátria e os valores da Herança Nacional não se percam nem passem ao
esquecimento. Na Escola Militar aprendemos a sofrer, a sermos disciplinados, a
cumprir sem reclamar, a obedecer aos nossos superiores e a respeitar os nossos
camaradas; experiências estas que nos permitiram ver e encarar a vida por
prismas diferentes dos demais cidadãos e, por isso, a nossa diferença.
Honra e glória aos mortos, e justiça para os vivos.
Respeito e gratidão principalmente para os homens que quando
a Pátria os chamou, para cumprirem os seus deveres de cidadania, disseram sem
hesitação:
PRESENTE!
Não nos chamem agora saudosistas, nem defensores de
políticas consideradas fascistas, mas sim homens dignos a quem foram
transmitidos valores de amar Deus, Pátria e Família. Os combatentes continuam a
sentir-se injustiçados pela forma como os nossos dirigentes, uns após outros,
(des)governaram e (des)governam este País, sem que tenham pelos valorosos
defensores de Portugal alguma réstia de gratidão, por tudo o que deram à sua
Pátria. Ainda muito recentemente, o 1.º Ministro de Portugal, numa visita de
Estado que fez a Moçambique, prestou honras militares, com deposição de coroa
de flores, no Memorial dos Combatentes dos Movimentos de Libertação
Moçambicanos; mas quanto aos Militares Portugueses que a Pátria abandonou e que
estão sepultados em cemitérios deste antigo território português, não teve, o
Sr. Primeiro-Ministro, a hombridade, nem qualquer espécie de sentimentos
patrióticos de demonstração do mesmo respeito pelos militares portugueses que
lá se encontram inumados. À luz da Constituição Portuguesa todo o cidadão
usufrui dos mesmos direitos e deveres de igualdade, mas a nós, antigos
combatentes, acresce o direito de cidadania, quando somos chamados pelo Governo
de Portugal a pegar em armas para defender a sua bandeira, em circunstâncias
que todos conhecem. Este direito deve ser um valor reconhecido por todos e
enaltecido. Todos estes 42 mortos, nossos conterrâneos, registados nesta lápide
são dignos de respeito e merecem que ergamos as nossas mãos em continência,
pois pertencem à geração de Portugueses cuja valentia e nobreza fizeram com que
fossem defendidos, com orgulho e patriotismo, os valores éticos e patrióticos
duma Nação cuja história nos deve orgulhar. Por isso, aqui quero prestar a
minha homenagem a todos os combatentes do Ultramar, que serviram e àqueles que
por terem servido não podem ou não querem estar entre nós, por quaisquer razões
pessoais. Não podemos deixar de recordar aqui também e nesta hora todos quantos
já faleceram depois da guerra, permitindo-nos que os invoquemos e de uma forma
muito singela e muito sentida, com elevação e nobreza, uma das mais belas
palavras da língua Portuguesa: SAUDADE.
Esta Guerra deixou muitas marcas e abriu muitas feridas, que
dificilmente se apagarão da memória de um Povo e de uma geração que se viu
envolvida numa guerra sem tréguas, privando-a de viver a juventude em plena
liberdade, forçada que foi a deixar os seus trabalhos, os seus estudos, a sua
Mãe, o seu Pai, os seus filhos, a sua mulher, a sua noiva, e partir para o
desconhecido sem saber se regressava. Estes heróis JAMAIS PODERÃO SER
ESQUECIDOS.
Sabemos e temos consciência de que a Pátria nada nos deve
para além da dignidade e respeito por nós e para com os nossos mortos; já que o
poder político não tem sabido cumprir com essa obrigação, compete-nos a nós,
enquanto protagonistas vivos desta geração, pugnar para que, despertando
consciências, se atinja esse fim, mesmo considerando todos aqueles que têm, em
relação aos antigos combatentes, algum desconforto pela forma como decorreu a
descolonização, mas, por favor, não atribuam aos combatentes qualquer
responsabilidade. E seria bom que a história ou os nossos historiadores um dia
fizessem essa justiça. Ainda no dia 8, sábado, esteve junto ao nosso Memorial a
Comp.ª de Caç. 2795 (1970/73), que fez Comissão em Moçambique, e no dia 9,
Domingo, as 12.ª e 14.ª Companhias de Comandos (Angola 1967/70), que muito nos
honraram com um convite para participarmos e colaborarmos nesses convívios. Só
quem, através duma intervenção activa na guerra do ultramar, vivendo as várias
facetas inerentes ao cenário criado por uma guerra de guerrilha, sem fim, que
nos marcou física e psicologicamente, sabe o significado e o que representa
para cada um de nós, esta cerimónia que anualmente aqui fazemos. A falta de
motivação dos ex-combatentes, para a participação nesta luta cívica e de
cidadania talvez seja da responsabilidade de todos nós e não só de alguns;
todavia, ninguém mas ninguém, poderá pôr em causa a justiça desta nossa
cruzada. Muitos de nós parecem se sentir envergonhados pela nossa participação
nesta guerra; deveríamos, pelo contrário, de sentir, isso sim, orgulho em ter
servido a Pátria. Há valores de igualdade, de respeito, de solidariedade, que
cultivámos nas duras lutas que travámos, que devem estar sempre presentes na
memória de todos nós. É nas dificuldades que encontramos valores em que, mesmo
sem se verem, devemos acreditar (FÉ, por ex.). O direito à saúde dos antigos
combatentes, pela participação na guerra, é da alçada do Estado, a este cabe
assumir as suas responsabilidades. Se o Estado não é capaz, deveremos ser nós a
exigir e impor, e não mendigar, que é isso que continuamos a fazer e a
assistir. Para quem ainda tem dúvidas da forma como fomos e somos tratados,
vejam os militares de hoje como são tratados (e muito bem). Dizem que a
intervenção destes militares no Estrangeiro é em missão de paz, e a nossa
intervenção foi de quê? Missões estas de 4 ou seis meses (a nós tocavam no
mínimo 24 meses). Hoje são bem pagos e são voluntários. Nas despedidas, têm
honras militares, com a presença do Sr. Primeiro-Ministro, do Sr. Ministro de
Defesa Nacional e até do Sr. Presidente da República, e quando regressam são
recebidos como heróis. E Nós? Será preciso dizer mais alguma coisa? Certamente:
QUE INGRATIDÃO. Passados estes anos, hoje será feita uma pequena parte da
justiça com as condecorações que iremos entregar, sendo, sem dúvida,
inteiramente merecidas. Testemunho este de quem admite a relevância de valores
como a solidariedade, o mérito e a honra. Reconheçam, pois nós já o
reconhecemos: “O Estado cumpre mal ou
não Cumpre o seu dever, perante aqueles a quem tudo exigiu”.
Ao finalizar esta minha intervenção farei a chamada dos
nossos verdadeiros heróis, que constam na lápida deste memorial, pedindo para
que todos, em sentido, com voz forte e com profundo sentimento digam: PRESENTE!
(SEGUE-SE A CHAMADA DO NOME DOS MORTOS)
Seguidamente será feita a chamada dos militares que vão
receber a sua tardia, mas mais do que merecida homenagem, atribuída pelo
Governo Português aos Combatentes do Ultramar, pelo esforço, sofrimento,
espírito de missão ao serviço da Pátria.
Manuel do Nascimento Costa Azevedo
Presidente da Associação
10 de Junho de 2013.
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